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Resiliência, um mote para a sustentabilidade do sujeito ou sustentabilidade do sistema?




Dúvida cruel, cruel no sentido que tem sangue, sangue cru, demasiada humana.

Resiliência é uma palavra que, nos últimos anos, ganhou destaque nas redes sociais e em outras redes de relações, principalmente as tóxicas, laborais, emocionais e capitais..., então gostaria de refletir um pouquinho sobre ela...

Se formos buscar a etimologia, "Resiliência" tem uma origem que se liga à origem das palavras "Recuperação" e "Renovação". Mas passado o tempo da originário, o mundo também encontrou um novo sinônimo: "Adaptabilidade", como se uma pessoa resiliente fosse uma pessoa com uma alta capacidade de se recuperar, se renovar, se adaptar. Parece não ter problema nisso, né? Mas eu gostaria de frisar o termo "alta capacidade", pois esse é um dos pontos chaves dessa reflexão que coloca quase que como oposição o "sujeito" e o "sistema".

No sistema social majoritário, o neoliberalismo, essa alta capacidade busca não somente uma recuperação do sujeito e/ou adaptabilidade. Essa "alta capacidade" visa algo extremo, ela visa uma regeneração do sujeito, um resetar a pessoa para que sua atuação na sociedade se faça.

Mas daí surge uma pergunta: Na tentativa de se adaptar, um sujeito renovado a esse ponto: regenerado, resetado, ainda é um sujeito? E quem não se recupera ou se não adapta? É um refugo?

E por que um psicólogo está falando disso?

O sujeito, na clínica, é o ser que é constituído pela linguagem e pela sociedade e, por conseguinte, também a constitui. Assim, a pretensão de se resetar sempre que algo for adverso é se apagar como sujeito e, em larga escala, atuar para uma sociedade também apagada - além de ser uma falácia pois não é possível se resetar.

Uma terapia de cunho analítico-crítico busca as contribuições das vivências do sujeito para lidar consigo e com o sistema, entendendo que estamos inseridos na estrutura da sociedade ao mesmo tempo em que também a estruturamos numa escala menor. Do contrário, a terapia serve apenas para que o Sistema tenha sempre pessoas despersonalizadas que possam ser renovadas sempre, sem, contudo, ser eficaz.

Faz sentido você? Me conta.

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