Para as primeiras semanas do ano, que tal uma reflexão sobre algo que, cada vez mais, a pessoas se dizem ser?
O termo "síndrome do impostor" ganhou destaque nos últimos anos, principalmente nos mundos corporativo e acadêmico e principalmente nos recortes de gênero e racial, afinal a ceifa do capital cai com mais veemência em alguns lugares sociais que em outros. Esse termo é associado a uma ideia de que a pessoa, por mais que domine a sua prática, principalmente laboral ou acadêmica exercida, tenha a sensação de que seu conhecimento não é suficiente para ser considerada digna de estar no lugar em que se encontra.
Não nego que possa haver pessoas que tenham tal sensação de forma patológica e que tenham prejuízos na vida devido a isso, mas esse texto é para nos lembrar que o sistema neoliberal, que vive de forma integrada aos sistemas misógino-patriarcal, branquitude-racista e normativo-capacitista em associação ao frenezí tecnológico e informacional que nos rodeia, é a argamassa para pensarmos que nossas inseguranças rotineiras sejam taxadas (impostas) como síndrome do impostor.
A sociedade atual nos convoca à sensação de obsolescência por não sabermos mais do que deveríamos saber para nos sentirmos úteis socialmente e, na tentativa de mitigar tal sensação, fingimos ser o que de fato somos para não aparentarmos não sermos. Ih, parece até maquiavélico, lembrando do Machiavellli dizendo que é "mais importante parecer ser do ser".
Termino aqui essa reflexão sem esgotar o assunto, afinal, somos seres da insuficiência, seres da falta, seres que são movidos e que movem a sociedade atual que nos faz parecer ser impostores de nós mesmos.
Enfim, reflexões de um psicoterapeuta sobre a subjetividade e saúde mental na sociedade atual.
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